Wednesday, December 18, 2013

the dream of zombies

Indo trabalhar, um casal em um conversível dirige devagar, à velocidade dos meus passos. Enquanto a moça mantém a direção, o rapaz me propõe.

– Você gostaria de ser um zumbi?
– Hmm, eu acho que não – respondo.

Percebo que o casal não parece muito normal. Tinham as peles pálidas e os cabelos meio bagunçados, como loucos são tipicamente retratados em filmes. Fazia sol, mas não calor. Ainda assim, o rapaz estava sem camisa e a moça também com roupas bem curtas. Os olhos de ambos eram profundos e haviam olheiras. Os dentes escuros como de idosos, apesar de aparentarem trinta e poucos anos. Dada curiosidade, resolvi dar trela.

– Mas porque pergunta?
– Queríamos fazer algumas perguntas para você. Estamos selecionando algumas pessoas pra tentar nos dar um bebê.
– E por que vocês não fazem um bebê vocês mesmos?
– Porque precisa estar vivo para fazer um bebê, doh. Estamos procurando pessoas para que gerem uma criança, aí então a contaminamos.
– Por que vocês não mordem direto uma criança?
– Não queremos crianças, elas são nojentas.
– Um recém-nascido?
– Morder recém-nascido não pode! – diz a moça com aquela voz boba com que alguns falam com bebês.
– Claro que pode, vocês são zumbis!

A paciência do rapaz se esgota, então ele pula para fora do carro e se aproxima de mim.

– Cara, a gente tá tentando ser legal, mas você está se esquecendo de uma coisa.
– Ah, é? De quê?
– De que somos zumbis! Eu poderia fazer o que eu quisesse logo aqui.
– Poderia não.

Levanto a palma da minha mão e a aponto em direção à testa do zumbi. Nada acontece. Repito o movimento. Mesmo resultado. Começo a ficar preocupado e recuo alguns passos.

A moça percebe a situação e também sai do carro, se dirigindo a mim. Os passos se aceleram e logo estamos correndo. Quando viro para olhar o rapaz se aproximando de mim, uma nuvem fina de cristais de gelo e neve surge por baixo dele e cresce para cima, fazendo com que o cara simplesmente vaporize.

Paro de correr, assim como a moça. Nos entreolhamos um tanto perplexos por alguns segundos, até que o mesmo acontece com ela. Blake surge na minha frente, o que me faz compreender um pouco melhor a situação. Vou logo me redimindo.

– Não sei o que aconteceu, eu fiz igualzinho outro dia! Uma luz surgiu da minha mão e eu vaporizei alguns bem por aqui!
Não foi igualzinho, venha cá.

Ele me leva para uma calçada, para e rotaciona um pouco o corpo para o lado.

– Foi bem aqui, não foi?
– Sim.
– Então foi esse movimento que você fez – diz ele gesticulando. – Olhe a posição do sol. Você tem que rebater a luz com o dorso da sua mão.
– E quando não tiver sol, eu me fodo? Você usa gelo!
– Ah, eu gostaria de não ter que usar e fazer como todo mundo faz. Mas não pude seguir este caminho. É uma longa história.

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