Monday, August 1, 2011

the dream of breathing underwater

À noite, voltando de um barzinho com MALICE e Pablo, andamos por uma calçada de madeira em uma cidade com ruas de água, como Veneza. Pablo é um sujeito negro, alto e careca.

Tropeço em alguma coisa e caio dentro da água. Minha reação normal seria desespero, mas me sinto muito confortável ali. Olho ao redor e fico tão encantado com a parte submergida da cidade que demoro a perceber que consigo respirar.

Exploro o lugar. Existe todo um ecossistema intocado por debaixo da cidade que aparentemente ninguém se deu conta. Convido meus amigos a mergulharem comigo.

Nadamos tão facilmente de forma a me fazer pensar que desenvolvemos membros de animais aquáticos, mas hesito e desisto de checar, tentando evitar preocupações que poderiam estragar esta sensação maravilhosa.

Deparamos-nos com uma morsa gigante e por receio de acontecer algo, decidimos encerrar a diversão por ali. Saímos da água e paramos em um beco onde alguns jovens se encontram conversando e bebendo vinho, sentados no chão. Enquanto MALICE vai buscar o carro, Pablo e eu enturmamos com os jovens e contamos a história.

– E eu não vou encarar um bicho que pesa 10 vezes o que eu peso - digo.

– Não que isso seja muito difícil – replica um rapaz com a franja cobrindo os olhos. Todos riem.

MALICE está demorando a voltar com o carro, o que começa a nos preocupar. Pablo se angustia muito mais que eu e logo sai em passos rápidos atrás de MALICE. Acompanho-o. Ao passar por uma lanchonete, vemos na TV uma notícia sobre três incêndios misteriosos e simultâneos que acabaram de ocorrer em bancas de jornal nas nossas redondezas. Imediatamente, Pablo parte correndo para averiguar as bancas. Vou atrás dele com muita dificuldade, tentando colocar alguma razão em suas ideias.

– O que diabos ela estaria fazendo em uma banca de jornal? – digo ofegante e inutilmente.

Vistamos todas as três bancas, não encontramos nada e paramos ao lado de uma casa de muro alto. Pablo surta, berra, soca duas vezes o muro da casa. Dá uma pequena corrida e um salto enorme praticamente sem impulso e, apoiando apenas uma das mãos no topo do muro, alavanca o resto do seu corpo por cima da parede, caindo no quintal da casa.

Com dificuldade, escalo o muro e o vejo berrando para o alto. O morador da casa sai na janela do andar de cima e trocar olhares comigo, também confuso. Pablo inicia uma espécie de dança ritual e puxa um pequeno monte do mato do quintal para cima, mas sem arrancá-lo do chão. Ele faz esse processo diversas vezes, torcendo levemente as plantas, que vão alisando, esticando e ficando mais claras, enquanto recita algum canto em uma língua africana.

No comments: