Wednesday, January 26, 2011

the dream of the grocery store

Em um mercado na seção de doces e vejo um rapaz jovem à minha frente. Ele é negro, cabelo grande e arrepiado, usando um boné para cobri-lo. Usa uma jaqueta amarela e aparenta ter por volta de 15 anos. Está olhando chicletes.

Pego uma laranja do meu carrinho de compras e jogo para o alto em sua direção, sem muita força e acerta sua cabeça. Saio na espreita, tomando cuidado para deixar que ele me veja, mas que não consiga me seguir.

Fico espreitando-o pelo supermercado durante o resto de suas compras, sem deixar que ele me note. Organizo-me para entrar na fila do caixa alguns minutos antes dele, abaixo minha guarda propositalmente e fico de costas para ele. De longe, me vê. Faz como eu e joga de leve alguma fruta em minha cabeça, atitude que ignoro totalmente.

A ausência de reação por minha parte o irrita e agora ele arremessa um vidro de maionese de seu carrinho, com toda força que consegue. Devido à força aplicada, sua precisão diminui e ela acaba por acertar o monitor do caixa ao lado. A funcionária levanta-se furiosa e parte em sua direção, tomando-o pelo braço e levando-o à direção do estabelecimento. De longe, vejo pessoas discutindo a situação entre eles e junto ao rapaz. Ele aponta para uma bicicleta parada em uma parede, então um funcionário a busca e leva para dentro de uma sala.

Começa a chover. Pago minhas compras, coloco em uma sacola reutilizável que carrego comigo e aguardo na saída do mercado, olhando a chuva cair. Alguns minutos depois, o rapaz se aproxima de mim, caminhando cabisbaixo, pára do meu lado e vira para a chuva. Alguns momentos de silêncio se passam.

– Queria ainda ter minha bicicleta - diz ele.

Com um breve sorriso, parto para casa caminhando pela chuva.

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