Friday, May 7, 2021

the dream of judgement

Eu estava sendo elevado ao ar livre muito lentamente. Para mim, é incerto se meu corpo se encontrava ali, mas minha consciência estava naquele lugar e além de ser o que eu enxergava. Eu tinha controle nenhum sobre a situação e levei algum tempo para começar a processar meus arredores.

Me via atravessando uma espécie de flor imaterial que pairava no céu noturno da cidade. Sentia que ela era algo que existia (e não fruto da minha imaginação), só em outro plano, talvez. Algo que a maioria das pessoas não podia ver. A cidade, afinal, aparentava funcionar normalmente, como era possível observar estendendo a visão um pouco adiante.

A flor etérea era composta de vários andares ou camadas. Conforme subia, eu tentava racionalizar o que estava acontecendo. Olhando ao redor, eu via partículas brilhantes subindo junto a mim. A cada camada que eu passava, algumas dessas partículas ficavam e outras continuavam em movimento comigo. Com isso, quando mais alto eu chegava, menos iluminada a flor ficava.Muitas perguntas surgiam enquanto meu corpo - ou essência, ou seja lá o que compunha minha consciência - continuava sendo levado para cima. Seriam as partículas pessoas que morreram? Almas, talvez, por assim dizer? Representariam as camadas a medida de seus valores? Por que, então, eu continuava subindo?

De alguma forma, eu tinha a sensação de que eu não deveria estar ali. Eu não me sentia digno de continuar subindo. Eu não queria continuar subindo, estava ficando tudo tão escuro. Eventualmente cheguei ao topo. Um pequeno botão, como uma pequena flor dentro de outra flor. Não havia nenhum ponto cintilante ao meu redor. Eu estava sozinho. Por que eu estava ali e por que apenas eu? Assim que parei de subir retomei controle do meu corpo. Comecei a me questionar o motivo de não haver mais nenhuma alma ali e como, se minhas deduções estivessem certas, não havia nenhuma forma deste sistema ser justo. Além do mais, ele não servia de nada. Como, por exemplo, a alma de uma criança que morreu durante o parto, não seria digna de chegar ao topo? A pureza da alma seria algo inato da pessoa e, de alguma forma, nenhum ser era puro o suficiente para o cume? Assim sendo, nada que uma pessoa fizesse em vida faria diferença para seu julgamento final, já que seu destino estava definido antes mesmo de ela nascer?

Eram muitas perguntas, mas a certeza que eu tinha era de que eu não queria ficar ali. Hesitante, me joguei em queda livre em direção à cidade.

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